domingo, 31 de julho de 2011


EU SOU

Por entre as adversidades
EU SOU o trilhar sereno
caminhando para a luz

Meu foco está adiante
EU SOU a visão plena
atendendo o chamado
do vento

Por entre as indignidades
EU SOU o olhar ameno
observando toda a luz

Minha percepção avança
EU SOU a verdade oculta
pulsando de amor
por dentro

Por entre as calamidades
EU SOU o salutar dreno
vertendo a dor em direção à luz

.

ALÉM DAS APARÊNCIAS

Há um estado de coisas inefáveis
além das aparências das coisas

Há um louvável espírito nascido
além das aparências louváveis

Há um espetáculo inédito
além das aparências

Um espetáculo sem plateia
há nos bastidores de todas as coisas

.

AMOR NA AUSÊNCIA

Erra o ego ao destilar seu veneno
Chora-se em suprema ardência
Supõe-se, quando longe, em ausência

Porém o amor não afasta os amantes
Sempre ligados em união vital
sagrado amor em encontro total

Erra o humano quando ensurdece
aos sussurros do coração
chora rios de perturbação

Tendo entranhado em si mesmo
o infindável alimento
a fonte para seu peito sedento

O amor nunca está distante
basta atentar-se
e na intuição aprimorar-se

Erra o sofredor no desespero
entretido no falso enredo
desconhecendo o segredo:

É impossível afastar as almas!

.

O Canto da manhã

Quando canta o pássaro
anunciando a nova manhã
o farfalhar silencia
a dança alada para
o raio de sol alumia
o palco dourado
onde o cantador assovia
pra o tempo nunca deixar
de passar seu acorde
sintonizado
no astral das manhãs

.

Você e o amor

Foi quando você me convidou
a conhecer as dimensões
do amor que existe em nós

Me levou a flanar livremente
por entre brancas nuvens
de amor disperso e só

Me mostrou os grandes rios
a correr caudalosamente
no amor vibrante e sem dó

Foi quando você me amou
em delírios e emoções
que o amor vibrou por nós

.

Mandala Olhos

Em progressão
a boa sorte
vai ampliando
minha visão

Das más energias
protegida
vou meditando...
as mãos frias

Em satisfação
a mandala
vai adentrando
minha intuição

Dos nós aparentes
libertada
vou realizando...
as mãos quentes

.

Caduquice

Era guardado com todo o zelo, muito bem escondido...
Era como um tesouro. O velho ali recolhia as chaves de um segredo. Trazia um sorriso maroto, do tempo de garoto, quando eram outros os segredos...
Mas foi descoberto em dia agitado, a neta encontrou o pote lacrado. Descuidada, o derrubou...
Espatifado, pelo chão espalhou-se a revelação à toda a família:
As dezenas de parafusos que faltavam no cérebro do avô denunciaram a falcatrua:
Senilidade qual nada! Galhofice de ancião!

.

quarta-feira, 27 de julho de 2011


Eu levo o sonho comigo

Se pra criar aquela realidade
ideal, pacífica, colorida
é preciso imaginá-la...
eu levo o sonho comigo
por onde vou...

Rotina, dia-a-dia
mãos e passos
atarefados
e o pensamento
prático ligado
no automático

Se pra criar minha realidade
vital, romântica, dourada
é preciso imaginá-la...
eu levo o sonho comigo
onde eu estou...

Dormindo, de noite
olhos e corpo
cansados
e o pensamento
sempre ligado
querendo você

.

(A_HOPE_by_deWhin)
 
APRENDER SEMPRE

Todo segundo de vida
(e ela é infinita)
tem potenciais
pra se aprender

Todo tempo bendito
por possibilidades
é presente,
regalo dos céus

.

Viagem

Acompanhando a viagem
os moinhos, lembranças
de antigos cavaleiros
e armaduras
e suas investiduras
a favor do sonho
de cada dia

Percorrendo a estrada
redemoinhos, sombras
de pensamentos
em desalinhos
embaraçados
pelo vento
e paisagem

Escolhendo uma pousada
como passarinhos, criança
carente de carinhos
afundo-me em cama
estranha e macia
perfumo sonhos
de transitoriedade

.

TESOUROS

Revirando guardados em busca
de algum documento perdido
encontro tesouros!

Esquecidos na poeira
da bagunça

Descansados na miscelânea rica
dos absurdos!
.


Companhias

Pra não estar só
uno-me à esperança
Ela acolhe-me
me tem criança

Pra viver na Terra
uno-me à coragem
Ela eleva-me
me faz modelagem

Pra estar em paz
uno-me à felicidade
Ela preenche-me
não tem idade

Pra não me perder
uno-me à Deus
Ele ilumina-me
me leva aos Céus

.


O mundo que vale a pena

O mundo que vale a pena
tem de ter a tolerância
e mistura em exuberância

Os diversos num abraço
os gatos, pássaros e ratos
dançando num só compasso

As diferenças numa valsa
rodopiando um Strauss completo
e depois se acabando numa salsa

Os controversos rindo à toa
buzina, flauta e fanfarra
levando a vida na farra

As desavenças escalpeladas
sem couro nem casca de ferida
soluçando pelo fim das ciladas

Os universos individuais
todos em harmonia de pensamentos
jovens e velhos em sintonia de canais

Onde reina a paciência
o amor e a coerência
é o mundo que vale a pena

.

Eles voam

Meus sonhos voam à alturas estratosféricas
Rodopiam na dança sideral das estrelas
Eles viajam em cauda de cometas

Meus sonhos voam à alturas quilométricas
Esvaziam o combustível das naves
espaciais, onde viajam suaves

Meus sonhos voam à alturas estratégicas
Para que possam enxergar o vão
do espaço ilusório da matéria

E me avisem na hora certa da realização

.

Do meu coração

Todo aquele que preza a liberdade
de sua alma e de todas as demais
merece um cadinho de meu coração
recebe um tantinho de minha atenção

Todo aquele que respeita sua luz
e põe brilho em tudo o que faz
merece bocados do meu coração
recebe alados sinais de adoração

Mas aquele que tem uma singular
conexão com a Fonte dos Mistérios
este tem a chave do meu coração
merece e recebe minha maior afeição

.

domingo, 24 de julho de 2011



NASCI EM 72

Acho que eu não teria
a minha calma
se eu fosse jovem
nos anos 70...

Eu sentia a efervescência

Eu vivia a fantasia
do Sítio do Pica-pau Amarelo
mas eu sabia de pessoas boas
que foram presas

Eu acompanhava os passos
da música I love to love
imitando os adolescentes
mas me entertia mais
com a Susi de bicicleta

Minha boneca era loira
e ria sozinha
mas eu ouvia o grito
rebelde de Raulzito

Eu sentia a efervescência

Eu via uma aura
colorida nos céus
daqueles anos
apesar das nuvens-chumbo
da censura-ditadura

E do concreto do edifício
de mil apartamentos
e nenhuma folha verde

Acho que e não seria
nada calma
se eu fosse jovem
nos anos 70...

.


Existe amor a primeira vista?

A primeira visita
que teu olhar
me fez

Entorpeceu
meus sentidos

O paladar
amortecido
sentia gosto
de estrelas...

A visão
enlouquecida
via estrelas
durante o dia...

O tato
arrrepiado
tocava estrelas
da imaginação...

A audição
comprometida
ouvia exclusivamente
tua voz das estrelas...

O olfato
transtornado
sentia o cheiro
das esferas a brilhar...

Meus sentidos
estremeceram
a olhos vistos

.


Peninha equilíbrio

Leve, pena branca
leve minha vida
na direção dos ventos
dos ventos da mudança...

Leve pena branca
leve como uma partícula
do Todo em movimento
movimento da mudança...

Leve peninha
me acolhe na brisa
me dissolve no Nada

Leve, peninha,
meu equilíbrio
ao topo da Escada

.

Se eu fosse outro

Eu seria meio brilho, meio opaco
Eu seria meia-luz, meio-dia
Eu teria outro nome, meio-fraco
Eu teria outra luz, meia-sintonia

Seria toda a Criação, a emanação
Seria a peça-quebra-cabeça
Se eu não fosse quem sou
Se anunciaria o que me criou

.

MANDALA BOA TARDE

Quando a tarde faz-se colorida
te cumprimento, meu amigo
e compartilho contigo
o prazer da vida

Enquanto a tarde esvai-se
me alimento da bonita
vital e infinita
amizade nossa

Nesta troca contínua
circular e amiga
construo a viga

Do equilíbrio ímpar
volátil e pleno
trato sereno

.


Trama

Tu e eu, fascínio
Cúmplice, contínuo
No total conluio
destino êxtase fatal!



.

sexta-feira, 22 de julho de 2011



Dos pássaros e dos dedos

A beleza de amar
está em estar convicto
na possibilidade de voar

A redenção de perdoar
consiste em coexistir
as diferenças no doar

A tristeza e penar
só pranteiam o pó
levantado na despedida

A retenção do liberar
estragaria a pintura
fluida do céu da vida

.
Suavemente

Desfilas sobre meus delírios
com meus sonhos adornado
todo em tons de dourado

Teus lindos olhos risonhos
edulcoram minhas fragrâncias
apaixonadas em últimas instâncias

Quero que assim como os lírios
estejas sempre vestido
do amor vertido

Mas se teus olhos se põem tristonhos
derriba-me o doce sorriso
e meus sonhos perdem o viço

Por sobre o caminho dos meus sonhos
pises sempre muito suavemente
sejas gentil, plenamente
..

O CAMINHO CERTO

Veredas belas, singelas
caminhos, espinhos
daninhos, rosetas...
Por curvas, sinuosas
atraentes, consequentes...
Vamos no trilho da vida
sem ver o destino
na virada do tempo.
Alamedas serenas,
estradas, picadas
abertas à mão...
Por turvas visões
emoções, sensações...
Vamos no foco certo
sem ter um guia fechado
mas o olho bem aberto.

.

Tecidos de céu

Tecidos de várias nuances
degradés, paleta de cores

Um tear celestial, relances
do artesão dos dias

Para que tu, humano, dances
vestido de estrelas

E no findar das horas, alcances
o êxtase das auroras!

.


SEM FIM E SEM COMEÇO


Imponderável é o amor
Origem e destino
dos movimentos

Incontestável poder
Ordem e caos
dos sentimentos

Interminável prazer
Orgia e bendição
dos relacionamentos

Intangível é o amor
Odisseia e calmaria
dos desdobramentos

..



O fogo e a cera

O fogo na vela enleva e me leva
a delirar com o bruxulear dela
relembro fatos da história
apesar da parca memória

A cera derretida pela chama
me chama a repensar na fama
que se esvai no vento do tempo
nos nomes nobres em esquecimento

A chave dos mistérios
derrete toda ali
revive o surreal Dali

A potência dos impérios
submete-se à Samsara
e somente o Senhor é fogo celestial.

.


Esmeralda

Pedra, oh minha pedrinha preciosa
une a mim as tuas vivas energias
desfrutemos de uma amizade radiosa
dê a mim o prazer das trocas sadias

Cristal, oh mineral vivificante
transcende em mim o inconsciente
revelemos o que é mais importante
reacende em mim a chama ciente

Oh verde de todas as curas
és a propriedade eficiente
raio de emanações seguras

Tua dádiva benigna me salda
toda dívida remanescente
e cada face tua te faz Esmeralda

.


Novo jovem

Vida nova em energia nova
Não há parâmetros antigos
para se espelhar, antes confrontar!

Juventude promessa nova
Não há temor de questionar!

Seja fútil, seja intelectual
o jovem dos anos dois mil
tem muito o que experimentar!
.

RUIDOSAS

Muitos homens se manifestam
em seus silêncios
Enquanto as mulheres expressam
seus amores
de muitas maneiras ruidosas.
.

segunda-feira, 18 de julho de 2011


A Gavetinha de costura

Pequenos detalhes, aviamentos
na gavetinha de costura guardados
organizados no carinho bem prendado

Pequenos gestos, artesanais
nas mãos de costureira dedicada
ligeiros nas manobras bem cuidadas

Pequenos pontos, refinamentos
na visão perfeccionista, detalhada
arrrematados na perícia bem treinada

Pequenas lembranças, especiais
nas saudades dos tempos passados
inteiros de amor ao teu lado

.

ÍNDIO DAS ESTRELAS

Recebeu a descendência dos céus
firme, juntou seus mundos
revigorou as mensagens

Acendeu as luzes próprias
forte, juntou suas ideias
aprimorou as passagens

Aquiesceu os ânimos dos seus
feliz, juntou seus irmãos
mostrou-lhes visagens

Rompeu os pactos dos perdidos
fértil, juntou suas sementes
encheu-lhes de coragens

Alumiou os caminhos futuros
farol, juntou as estrelas
estremeceu as paisagens

Abrigou as verdades celestes
filho, juntou Pai e Mãe
ofereceu homenagens

.
Luz verdade

A verdade é a sua luz
quando ela te faz bem
e prejudica a ninguém

A verdade é a sua cruz
quando por ela você tem
que machucar alguém

e é quando você fere-se também!

.
(Bansky)

Donos anestesiados

Anestesiados humanos
absorvem as verdades
confidenciam cúmplices
modernos segredos

Por novos lados
descobrem-se
poderosos
absolutos

Donos da explosão
de novos comandos
em mandos e desmandos
com tarjas de retidão...

Afinal
entendem-se
'mafiosos
impolutos'...

Anorkinda e Mazeh Lage

.


O Azul é o Céu

O azul é cor do infinito
o firmamento visível
o céu que nos cobre
de substância etérea

O azul é cor do bonito
mar, grande e indefinível
águas que refletem
translúcidas, a vista aérea

O azul é cor do cristalino
olhar, profundo e incrível
olhos claros que remetem
ao paraíso da matéria

O azul é cor do menino*
o personagem sensível
o amigo que descobre
a riqueza inocente da pilhéria

Anorkinda

*refere-se ao Menino Azul , poema de Cecília Meireles

.

sexta-feira, 15 de julho de 2011


À Aventura

Integrei-me ao destino
não julguei o desatino

Joguei-me à aventura
não temi a desventura

Lancei-me a voar
viciei em revoar

Icei-me à paz
de ser capaz
.

Jardins suspensos do olhar

Mergulho em teu olhar
e sinto a brisa marinha
de tanto que vês o mar...

Penetro em teu olhar
e vejo o vapor singrando
seguro nas vagas a balouçar...

Colorido teu olhar...
reflete o claro luar

Vidro suspenso a me chamar
a te amar até me afogar...

.

Moça em lua grande

Somente em noite de lua grande
quando as águas do lago negro
prateiam em rebrilho diamante
é que a moça pode ser vista

Ela caminha calma e lânguida
em direção à densa floresta
pranteia um imenso desamor
escuridão é o que lhe resta

O encanto traz má sorte
quem a vê, assim triste
suspira junto à morte

O bom é imitar a bruma
evitar a visão sinistra
e desconhecer-lhe a pista

.

Porteirinha

Porteirinha que se abre
sem rangido ou alarido
abre-se gentil...

Trilha, minha conhecida
recebe-me em boa-vinda
coisa mais que linda...

Pequeninha eu me sinto
sem idade ou vaidade
sinto-me infantil...

Terreno, pleno e verde
acolhe-me elemental
num espaço surreal...

.

Vou andando

Ao objetivo, seja ele claro
ou algo pressentido
pelo meu apurado faro

Vou andando, tranquila
permitindo o preparo
adequado desta trilha

Ao subjetivo destino
modero a pilha
de energia e motivo

Vou andando, madura
moderando o tino
pincelado de loucura

.

ESPELHOS DA ALMA

A pele pode não ser translúcida
mas no cristalino dos teus olhos
transparece todo teu interior

A palavra pode não ser óbvia
mas na entrelinha dos meus versos
exalta-se todo meu imenso amor

No piscar de tuas pálpebras
pode demonstrar-se inquietação
que umedece a visível emoção

Na leitura de minha poesia
pode conjugar-se a vibração
que aquece a nossa relação
.

Um bálsamo de luz

Por vezes, aparecem-nos
quatro paredes escuras
a querer nos prender
são as aperturas

Há sempre, disfarçada
ou não, uma porta de luz
a verter verdadeiras soluções
são as imprescindíveis aberturas

Por vezes, ofuscam-nos
estas claras visões
a arder nossas vistas
distantes das curas

Há sempre, disponível
um colírio bem providente
a oferecer, amor-benevolência
o bálsamo das lágrimas mais puras
.

quarta-feira, 13 de julho de 2011


Quando as palavras me acham

Em dias em que não estou triste
(e são quase todos...)
as palavras me acham, me colhem
e me fazem flor
no vaso do pranto e desamor...

Em dias em que não estou alegre
(e são bem poucos...)
as palavras me seguem, me puxam
e me jogam no ar
balão colorido de gás...

É assim que as senhoras palavras
(e são finas damas...)
me curam, me salvam e me asseguram
de que não sou só...
Tenho a poesia para viver!

.

CASUAL

Parecia por acaso, casualidade
mas isto não existe, sincronias...
Nos encontramos nas manias

De sentir tanta e muita saudade
De pedir sempre por mais e  mais...
Nos reconhecemos tão iguais

Todos dizem ser bem casual
nossa paixão assim total...

Mas a história é bem outra
não foi traçada em linha solta...
.

Santinho

O menino era santinho
comportava-se
de tal maneira...
Que a própria mãe
lhe dizia...
-Guri, vai aprontar!

Mas o menino era quietinho
contentava-se
com qualquer besteira...
Que lhe aparecesse
pra brincar...
-Quem tem imaginação
não depende do exterior
pra se alegrar!

.

Moralidade

Um dia uma tal...
dizia-se Verdade...
apareceu cheirando
à moralidade...

Seu perfume era tal...
dizia-se hipnótico...
rescendeu espalhando
um teor caótico...

Sim, pois uma tal
dizendo-se Verdade...
não seguia compartilhando
com nenhuma diversidade...

Seu betume era tal...
fazendo-se negror...
não vertia alumiando
a nenhum senhor...

Pois que um dia esta tal
única Verdade...
estará rascunhando
uma auto-biografia de senilidade!
.

Sede

Sede
de amar
a sofrer

saciar-me
feliz

só se for
com você


.

sábado, 9 de julho de 2011


REALIDADE ALTERNATIVA

Com a luz acesa do quarto de dormir
pude perceber que ela ainda lia
era alta madrugada mas a leitura a envolvia

Passei pelo corredor e fiz algum ruído
queria que ela me chamasse
abandonasse a ficção e enfim me amasse

Mas que nada, precisei me conformar
No café da manhã, ela contou-me
o livro todo, empolgada, consolou-me

Disse sentir-se à história ligada
como se fosse de sua vida que falavam
eu nada disse mas as lágrimas brotavam

Luana não precisou perguntar-me
ela sabia o que se passava em mim
também a ela a emoção saía assim

-Desidério, somos nós aqui retratados
ou fomos nós em algum tempo e espaço?
Não respondi, a cabeça em embaraço

Todo drama, a tragédia exposta em livro
causou-me náusea, como se um diário
houvesse sido aberto, um inventário

-Não é ficção realmente, minha querida.
E cambaleei até o sofá, a minha frente
um portal se abria de forma veemente

Assisti a tudo o que já vivi
com direito a toda a dor sentir
e a culpa ainda a querer me punir

Pois que matei e usurpei e paguei
um alto preço ao perder meu maior bem
o amor que não se vende por qualquer vintém

Luana nada via pois que já havia lido tudo
durante a madrugada, quando assustada
foi relembrando o que parecia ser uma cilada

-Por que volta-nos tudo o que vivemos?
Não foi suficiente o valor de uma vida
para apagarmos as cicatrizes da ferida?

Perguntava-se ela, chorando desconsolada
Eu nada podia fazer, dilacerado pela mente
me acusando pela insanidade ainda presente

Quando o portal de lembranças fechou-se
de súbito ocorreu-me um lampejo na ideia
recorri ao livro, narrativa de minha epopeia

Não havia nome do autor, sentei-me ao computador
Luana quis saber no que eu pensava
porém, totalmente absorto eu me achava

Digitei páginas e páginas de uma história
parecida com aquela tão minha algoz
mas eu a modificava em frêmito feroz

Eu suava e nem mais percebia Luana
que em transe me olhava sem me ver
Seu semblante modificava-se sem querer

Ao terminar de verter a inspiração
salvadora, redentora, expiação pura
uma magia branca ou negra, loucura

Suspirei numa respiração funda
então olhei para Luana, que serena
sorria e me oferecia a boca pequena

A beijei e então eu sabia
que o passado fora modificado
o livro sobre a mesa, consagrado

Pedi a Luana que o lesse novamente
-Desidério, acabei de comprá-lo
nem o li ainda, estou louca para devorá-lo!

Eu ri quase convulsivamente
a amiga que antes me desdenhava
era agora minha esposa e me amava

Toda a punição de um terrível passado
fora apagada de meu livro eterno
hoje é paraíso o que antes era inferno
.

No verde, o colibri

Arquiteta delicadeza
hábil para a tarefa
destinada, polinizar
ao beijar docemente

Singela beleza
tátil pétala
agraciada
a te amar

veementemente

.

Murmúrio do mar

Ouço o murmúrio
da maré vazante
fala, mau augúrio,
sobre meu amante

O canto espesso
deste escuro mar
diz, reza de terço,
nada há a esperar
.

Bruma

o amor esfuma
entregue à bruma
enlaça a noite
tal qual açoite
e esvoaça
sem graça
rumo à alvorada
despudorada
.